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6 hábitos antigos que pessoas dos 60 aos 70 anos mantêm e que as tornam mais felizes do que os jovens obcecados por tecnologia.

Casal maduro a planear refeição na cozinha, com legumes frescos e um caderno na mesa.

Sexta-feira à tarde, biblioteca de uma vila pequena.

O Wi‑Fi é dolorosamente lento, o que significa que os adolescentes, em grande parte, já desistiram e foram para casa. Na grande mesa de madeira junto à janela, três pessoas na casa dos sessenta e muitos inclinam-se sobre uma pilha de livros de bolso, a rir tão alto que a bibliotecária finge estar incomodada.

Uma delas, a Mary, dobra com cuidado a ponta de uma página, como sempre fez. Nada de app de marcadores, nada de “barra de progresso de leitura”. Apenas um ritual silencioso que as mãos conhecem de cor. Em frente, o Robert tira da mala um caderno gasto. Aponta uma receita que acabou de ouvir, com tinta azul, numa caligrafia que parece pertencer a outro século.

Lá fora, um taxista nos seus vinte e poucos anos faz scroll no TikTok dentro do carro estacionado, aborrecido e acelerado ao mesmo tempo. Cá dentro, o tempo parece mais lento, mais denso, quase teimoso. Estes hábitos à moda antiga parecem fora de lugar. E, no entanto, podem ser exatamente aquilo que falta.

1. Escrever à mão em vez de viver em apps

Veja alguém nos setenta a escrever uma lista de compras. É sem pressa, quase cerimonial. Senta-se à mesa da cozinha, tira uma caneta de uma caneca e pega no verso de um envelope antigo. Sem notificações. Sem pop-ups a pedir atualizações. Só papel, tinta e pensamentos a alinhar-se, um a seguir ao outro.

A escrita à mão não faz multitarefa. Quando uma pessoa mais velha escreve um cartão de aniversário ou uma receita, o cérebro tem de escolher cada palavra, cada traço. Esse pequeno momento de foco é o oposto da atenção constantemente dividida em que muitos jovens vivem. Não é nostalgia; é higiene mental.

Investigadores de Princeton e da UCLA descobriram que estudantes que tiram apontamentos à mão recordam melhor conceitos do que aqueles que escrevem em portáteis. A mão abranda o cérebro o suficiente para ele processar. Pessoas na casa dos sessenta cresceram nesse ritmo. Nunca o largaram. Enquanto as gerações mais novas saltam entre cinco apps, os mais velhos muitas vezes ficam pela caneta e pelo caderno - e acabam o dia menos esgotados mentalmente.

A Mary, 71, ainda mantém um livro de endereços em papel. Quando um amigo muda de número, risca o antigo e reescreve o novo, com cuidado. “Faz-me pensar na pessoa”, diz ela. “Lembro-me porque é que lhe estou a ligar.” Esse pequeno ato de escrever transforma uma atualização prática num momento de ligação dentro da cabeça.

Muitos trintões juram pelas apps de produtividade e depois, discretamente, abandonam-nas ao fim de três semanas. O caderno em cima do balcão não precisa de carregar. Não vende os seus dados. Está ali, paciente, aberto a listas de compras, pensamentos às 2 da manhã ou ao nome daquele filme que alguém mencionou ao jantar. Torna-se uma testemunha silenciosa de uma vida real, não apenas de uma vida de ecrã.

Não é que os mais velhos odeiem tecnologia. Muitos usam smartphones e tablets sem problema. O que não largam é a âncora física da caneta e do papel. Essa âncora importa quando o stress é alto. Anotar preocupações, planos e ideias à mão mostrou reduzir a ansiedade em vários estudos de psicologia. Quase se sente o cérebro a expirar quando a caneta toca no papel e o caos na cabeça passa a ter onde assentar.

2. Telefonar e fazer visitas em vez de mensagens intermináveis

Há um som particular num telefonema de linha fixa numa casa silenciosa. O toque corta a tarde, e alguém nos setenta levanta-se - um pouco mais devagar do que antes - mas com um verdadeiro sentido de expectativa. Do outro lado não há um “ping” nem um “visto às 14:02”. Há uma voz. A respirar, a hesitar, a rir na altura errada.

Muitos adultos mais velhos nunca adotaram o hábito de longas conversas por mensagens. Preferem pegar no telefone ou aparecer-lhe à porta com uma tarte. Por fora, parece antiquado. Mas os sistemas nervosos humanos foram feitos para o tom de voz e o contacto visual, não para bolhas azuis e pontinhos a escrever que aparecem e desaparecem como fantasmas.

Numa quinta-feira chuvosa em Manchester, vi um motorista de autocarro reformado, o James, 68, passar uma hora a caminhar para ir ver um amigo que “andava mais calado”. Sem check-in no WhatsApp. Bateu à porta, esperou e entrou com dois cafés na mão. Sentaram-se à mesa da cozinha e falaram de nada em particular durante 90 minutos. Sem fotos, sem stories. Apenas histórias contadas com mãos e pausas.

Mais tarde, o James contou-me que perdera um colega para a depressão anos antes. “Ele escrevia sempre ‘estou bem’ nas mensagens”, disse. “Ao telefone, ouve-se quando alguém não está bem.” A geração dele aprendeu a ler micro-pausas, respirações tremidas, pequenas hesitações que nunca passam para o texto. Essa competência não vira tendência nas redes sociais - mas salva vidas em silêncio.

O famoso Estudo de Desenvolvimento Adulto de Harvard, com 80 anos, concluiu que relações próximas são o mais forte preditor de felicidade e saúde a longo prazo - mais do que dinheiro ou fama. Pessoas nos sessenta e setenta formaram-se numa época em que aparecer fisicamente era a norma, não a exceção. Ainda marcam cafés, visitas ao domingo e telefonemas longos. Adultos jovens, obcecados por tecnologia, muitas vezes sentem-se “ligados” online e estranhamente sós offline. O hábito mais velho parece lento. Os dados dizem que é inteligente.

3. Manter limites rígidos em torno do descanso e dos domingos

Passe um fim de semana com um casal nos setenta e vai reparar em algo radical: há blocos inteiros de tempo em que nada “produtivo” acontece. Sem side hustle. Sem inbox zero. Sem Slack a altas horas. Apenas almoços longos, sestas e passeios em que o telemóvel fica no corredor, não no bolso.

Muitos adultos mais velhos cresceram com linhas claras entre dias de trabalho e dias de descanso. As lojas fechavam ao domingo. Os escritórios estavam vazios depois das 18h. Esse ritmo gravou-se no corpo. Não o largaram só porque chegaram os smartphones. Para eles, descansar não é um luxo. É uma regra.

Numa pequena quinta na Bretanha, uma mulher de 73 anos chamada Colette recusa-se ainda a tocar no e-mail aos domingos. “Se arder, que chamem os bombeiros, não a mim”, brinca. O domingo é para a igreja, a família, palavras cruzadas e um guisado lento a borbulhar no fogão. Os filhos e netos reviram os olhos às vezes. Ainda assim, aparecem sempre - porque sabem que o domingo na casa da avó é inegociável.

Todos conhecemos aquelas noites em que estamos meio a ver uma série, meio a fazer scroll, meio a responder a mensagens… e vamos para a cama estranhamente acelerados e vazios. Os mais velhos que protegem o descanso não caem nessa armadilha tão frequentemente. A televisão deles é uma televisão, não mais uma fonte de notificações. O quarto é para dormir e ler, não uma extensão do escritório.

Os cientistas do sono repetem que ecrãs brilhantes à noite perturbam a melatonina e que a ligação constante alimenta a ansiedade. Pessoas nos sessenta podem não conhecer os nomes das hormonas, mas as suas rotinas seguem, por acaso, a ciência. Desligam a TV a uma hora certa. Abrandam com um livro ou uma conversa. Deixam o cérebro pousar. Essa previsibilidade é como uma manta macia em volta do sistema nervoso.

4. Cozinhar “com tempo” em vez de comer em frente a um ecrã

Entre numa cozinha de alguém de 70 anos às 17h e vai sentir um cheiro. Cebolas a suar suavemente numa frigideira. Pão a aquecer no forno. Um frango a assar devagar, a encher a casa com um calor que não é só temperatura. Não precisam de um vídeo de receitas a tocar em silêncio ao lado. Cozinham de memória, ou a partir de um cartão manchado.

Cozinhar assim leva tempo. Raramente dá para o Instagram. Mas afasta as pessoas dos ecrãs através do toque e do cheiro. Cortar cenouras, amassar massa, mexer um molho: movimentos pequenos e repetitivos que funcionam como uma meditação em movimento. Adultos mais velhos que mantiveram este hábito dizem muitas vezes que estão mais calmos ao fim da tarde do que os filhos, que aquecem comida enquanto verificam e-mails.

Um estudo de 2022 publicado na Public Health Nutrition associou refeições caseiras a melhor bem-estar mental e níveis mais baixos de sintomas depressivos. Não tinha a ver com “comer limpo” perfeito. Tinha a ver com o ato de preparar comida e depois a partilhar. Muitos seniores ainda se sentam à mesa sem televisão ligada. Olham para a pessoa à frente, passam o sal, comentam o tempo ou a vedação nova do vizinho.

Numa terça-feira cinzenta em Londres, o Abdul, 69, convidou o neto de 24 anos a ajudar a cozinhar biryani. O neto estava sempre a pegar no telemóvel para filmar. O Abdul pousou-o com delicadeza no balcão, virado para baixo. “Come primeiro, mostra depois”, disse. Durante duas horas mediram especiarias, discutiram sobre quanto picante era demais e riram-se com cebolas ligeiramente queimadas. O neto admitiu depois que era a coisa mais relaxada que sentira em semanas.

Refeições em frente a um portátil confundem-se com o dia de trabalho. Engole a comida e os e-mails ao mesmo tempo. Os mais velhos que mantêm o jantar como um evento separado, sem ecrãs, traçam uma linha na areia: “Aqui, a vida está a acontecer. O trabalho pode esperar.” Essa linha protege a atenção, a digestão e, muitas vezes, as relações.

“A mesa é onde te lembras que não és só um trabalhador ou um nome de utilizador”, disse-me o Abdul. “És filho, filha, amigo de alguém. A comida lembra-te disso.”

Alguns pequenos “hábitos de avós” que pode roubar já hoje à noite:

  • Cozinhe uma refeição esta semana sem nenhum ecrã ligado - nem sequer música.
  • Coma à mesa, não no sofá, só uma vez, e repare como se sente.
  • Faça de um prato a sua “assinatura” e aprenda-o de cor, não a partir de um vídeo.

5. Caminhar sem auscultadores e conhecer os vizinhos

Repare em quem anda num parque sem nada nos ouvidos. Provavelmente não é o adolescente com AirPods. É o homem na casa dos sessenta e muitos, mãos atrás das costas, a observar cães, árvores e nuvens como se fosse um documentário de natureza de baixo orçamento. Nestes passeios, os mais velhos deixam o mundo entrar, em vez de o cobrir com som e conteúdo.

Também cumprimentam. O padeiro, a senhora na paragem do autocarro, a criança a cambalear na bicicleta. Parece trivial, até intrometido, até perceber a rede que isto tece. Micro-momentos de ligação, acumulados ao longo de anos, formam uma rede de segurança invisível. No dia em que algo corre mal, alguém nota. Alguém sabe o nome.

Já todos vivemos aquele momento em que percebemos que moramos no mesmo prédio há três anos e não sabemos o nome de um único vizinho. Muitas pessoas nos setenta acham isso absurdo. Cresceram a pedir açúcar emprestado ao lado e a ser mandadas “ver se a Sra. Lewis está bem”. Esses rituais ainda ecoam nos passeios do dia-a-dia.

Estudos urbanos mostram que pessoas que cumprimentam vizinhos relatam maior satisfação com a vida e menor stress percebido. Até uma conversa de 30 segundos liberta um pequeno pico de oxitocina, a hormona da ligação. Comparado com fazer scroll num feed sem fim, trocar acenos e contacto visual é como água para um cérebro com sede. Jovens obcecados por tecnologia muitas vezes terceirizam a companhia para relações parasociais com criadores. Os mais velhos conseguem-na com a pessoa na fila atrás deles nos CTT.

6. Manter hobbies que não têm nada a ver com desempenho

Início de noite num salão comunitário. As luzes fluorescentes são duras, o chão cheira ligeiramente a pó. Dez pessoas entre os 62 e os 79 estão a aprender line dancing para principiantes. Falham passos, riem, recomeçam. Ninguém está a filmar. Ninguém pergunta quantas calorias isto queima ou se “dá para escalar”. É só divertido.

A geração que agora está reformada cresceu com hobbies que eram simplesmente… hobbies. Colecionar selos. Tricotar. Observação de aves. Ensaios de coro. Sem monetização, sem contagem de seguidores, sem esperança escondida de viralizar. Essa liberdade da pressão de performance ainda molda a forma como ocupam o tempo.

Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias. Até os seniores têm noites preguiçosas com televisão ao acaso. Mas muitos mantêm uma ou duas atividades semanais que existem fora dos ecrãs e fora da conquista. Um clube de pintura. Uma noite de cartas. Um grupo de jardinagem. Com o tempo, tornam-se a espinha dorsal das semanas, dando estrutura, contacto social e uma sensação de progresso suave, sem métricas associadas.

“Quando estou no meu talhão, não sou um gestor reformado, não sou o avô de alguém”, diz o Lionel, 72 anos. “Sou só um homem a discutir com um tomateiro. É maravilhoso.”

A internet moderna diz aos mais novos que toda a paixão deve ser um side hustle, toda a competência uma potencial fonte de rendimento. Essa mensagem mata a alegria em silêncio. Adultos mais velhos que nunca a engoliram por completo tendem a proteger pequenos prazeres “inúteis”. As palavras cruzadas não lhes dão uma promoção. As aguarelas não vão para uma galeria. O jogo semanal de bridge não impressiona no LinkedIn.

  • Comece ou retome um hobby que nunca vai para o seu CV.
  • Proteja um horário na sua semana para isso como se fosse uma reunião.
  • Resista à vontade de publicar sobre isso durante pelo menos um mês.

Então, o que é que o resto de nós está a perder?

Pessoas nos sessenta e setenta não são santos. Podem ser teimosas, rabugentas, coladas à televisão durante o dia. Mas, se olhar com atenção, verá padrões que protegem discretamente a felicidade. Andam mais devagar num mundo que adora velocidade. Escolhem presença em vez de estimulação constante. Mantêm rituais que parecem pequenos por fora, mas enormes por dentro.

Escrever à mão. Telefonar em vez de enviar mensagens. Proteger os domingos. Cozinhar sem ecrã. Caminhar com os ouvidos abertos. Fazer coisas só pelo prazer de as fazer. Nada disto vira tendência no TikTok. Nem precisa. Sobrevive em cozinhas, centros comunitários, talhões e bancos virados para rios onde os telemóveis ficam no bolso mais um pouco.

A questão não é se a tecnologia é má e os “velhos modos” são bons. Essa discussão já passou. A questão é o que queremos preservar, de forma intencional, de uma geração que aprendeu a viver offline antes de existir o online. Talvez a felicidade hoje não passe por deitar fora os telemóveis. Talvez passe por contrabandear estes seis hábitos silenciosos e teimosos para dentro de um mundo que se esqueceu de respirar.

Ponto-chave Detalhe Interesse para o leitor
Escrita à mão e rituais analógicos Listas, cartas, cadernos em vez de apps constantes Oferece clareza mental e um ritmo de pensamento mais calmo
Ligação no mundo real Telefonemas, visitas, vizinhos, refeições partilhadas Constrói uma rede de apoio mais profunda e fiável
Descanso protegido e hobbies “inúteis” Domingos livres, noites sem ecrãs, paixões sem monetização Reduz o burnout e aumenta discretamente a felicidade a longo prazo

FAQ:

  • Estes hábitos são realistas para pessoas mais novas com trabalhos exigentes? Nem todos, sempre - mas ir buscar pequenas partes (como uma refeição sem ecrãs ou um telefonema semanal) já pode mudar a forma como os seus dias se sentem.
  • Os mais velhos usam mesmo menos tecnologia, ou isso é um mito? Muitos usam smartphones e redes sociais, mas muitas vezes mantêm rotinas offline mais fortes em paralelo, o que parece amortecer o stress.
  • Notas e cartas escritas à mão podem mesmo melhorar a saúde mental? Estudos sugerem que a escrita expressiva e a tomada de notas mais lenta melhoram a memória e reduzem sintomas de ansiedade em muitas pessoas.
  • E se eu me sentir estranho a telefonar ou a fazer visitas em vez de mandar mensagens? Comece pequeno: uma chamada de 5 minutos ou um café rápido. Esse desconforto inicial costuma dar lugar a uma sensação de ligação real.
  • Como posso introduzir estes hábitos sem parecer “fora do tempo”? Encare-os como experiências, não regras: convide amigos para um jantar sem telemóveis, proponha um passeio sem auscultadores, ou envie uma nota escrita à mão como surpresa.

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