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A conversa que prevê o divórcio com 93% de precisão: sinais de alerta revelados

Homem e mulher conversam seriamente à mesa da cozinha, com chávenas e documentos sobre a mesa.

A discussão começou por algo estúpido.

Um carregador em falta, acho eu, ou talvez uma toalha deixada em cima da cama. Ambos estavam cansados. Uma daquelas noites de quinta-feira em que a cozinha cheira vagamente a torradas queimadas e café requentado, e a televisão está ligada mas ninguém está realmente a ver. As vozes elevaram-se, alguém suspirou de forma dramática, alguém revirou os olhos. Quando a máquina de lavar loiça apitou, já nem falavam realmente do carregador – falavam de tudo. Quem faz mais. Quem se importa menos. Quem desistiu primeiro.

Não sabiam na altura, mas essa conversa – não a primeira discussão, não a grande traição, não os papéis assinados anos depois – foi o momento em que o fim começou silenciosamente. Não pelo que disseram, mas pela forma como disseram. O tom, as pequenas farpas, a maneira como ambos começaram a afastar-se mentalmente um do outro em tempo real. Existe um tipo de conversa que os investigadores de relações afirmam prever o divórcio com até 93% de precisão. O mais assustador? A maioria dos casais já teve essa conversa… e saiu a pensar, “Vai ficar tudo bem.”

A discussão que não é sobre o que pensas

Provavelmente imaginas uma conversa “previsora de divórcio” como uma discussão nuclear. Pratos a partir, portas a bater, vizinhos a ouvir através das paredes. Às vezes é mesmo assim dramático. Mas, na maioria das vezes, é dolorosamente banal: uma noite tranquila, chávenas de chá meio bebidas, duas pessoas a falar sobre o lixo ou dinheiro ou de quem é a vez de mandar mensagem aos sogros. À superfície, é sobre tarefas ou o tom de voz. Por baixo, é algo bem mais feio: desprezo, desdém e uma saída emocional silenciosa.

O psicólogo John Gottman, o homem por trás daquela famosa afirmação dos “93% de precisão”, não fez apenas suposições. Ele e a equipa observaram milhares de casais a conversar num laboratório que parecia um apartamento acolhedor. Depois acompanharam-nos durante anos. O que separou os casais que ficaram juntos dos que não ficaram não foi se discutiam, nem com que frequência. Foi se, nessas discussões, um padrão venenoso apareceu e começou a tornar-se habitual.

Todos já tivemos aquele momento em que o parceiro diz algo e não nos sentimos apenas magoados, sentimos… superioridade. Mais inteligentes, mais maduros, menos ridículos do que a pessoa a quem jurámos amar. É essa a conversa que muda tudo: não a em que se grita, mas aquela em que se decide, em silêncio, que se deixou de levar a sério aquela pessoa. Podemos continuar fisicamente à mesa, mas, emocionalmente, uma parte de nós levanta-se e sai da sala.

A previsão dos 93%: o que os investigadores realmente viram

No “Love Lab” de Gottman, nos EUA, foi pedido aos casais que tivessem uma conversa de 15 minutos sobre um problema na relação. Dinheiro, sexo, filhos, ressonar, qualquer coisa. A equipa ligou sensores: batimentos cardíacos, suor na pele, minúsculos movimentos dos músculos da cara. Registaram cada sobrancelha levantada, cada revirar de olhos, cada pausa longa e gelada. Anos mais tarde, verificaram quem ainda estava junto e quem se tinha separado.

De todos esses dados emergiu um padrão arrepiante. Se um certo tom emocional surgisse com determinada intensidade naquela breve conversa, conseguiam prever o divórcio com até 93% de precisão. Não era tristeza. Nem raiva. Nem sequer crítica por si só. Era desprezo: o lábio torcido, o sarcástico “Claro, porque tu é que tens sempre razão”, o suspiro que diz, “Estás abaixo de mim.” Quando o desprezo se sentava entre eles à mesa, os casamentos morriam em silêncio e atraso.

Sejamos honestos: ninguém fica ali a pensar, “Pronto, agora vou ser desprezível.” Entra de mansinho. Esconde-se nas piadas, no “só estou a ser sincero”, na forma como um fala como se fosse o pai/mãe exausto e o outro é a criança ingénua. Os investigadores também notaram outra coisa: o desprezo raramente vem sozinho. Costuma aparecer com os seus três irmãos desagradáveis — crítica, defensividade e bloqueio emocional — aquilo a que Gottman chamou os “Quatro Cavaleiros” do apocalipse relacional.

A conversa que revela tudo

A conversa que prevê o divórcio não é uma cimeira oficial, dramática, onde alguém grita: “Este casamento acabou!” Por fora, parece-se com qualquer outra discussão de sempre. Pode começar com: “Nunca me ouves,” ou “Estás sempre no telemóvel.” Ao início, podem tentar mesmo resolver algo. Depois, o rumo muda, como se alguém acendesse um interruptor no escuro.

É o momento em que se deixa de discutir o assunto e se começa a discutir a pessoa. Em vez de “Sinto-me ignorado quando estás no telemóvel a noite toda”, passa a ser, “És tão egoísta, só pensas em ti.” A queixa vira ataque à personalidade. Um afunila o olhar, talvez se ria por baixo, e o corpo diz: “És ridículo.” É o desprezo a entrar e a virar tudo do avesso.

Como soa o desprezo

O desprezo nem sempre grita. Às vezes é uma pequena e precisa facada. “Uau. Típico teu.” “Estás mesmo a chorar por isto?” “Não devia ter de te explicar coisas básicas.” É o olhar revirado que diz mais do que qualquer palavrão. É o sorriso de desdém enquanto o parceiro está realmente a sofrer. Um dos parceiros coloca-se “acima” do outro – moral, intelectual ou emocionalmente.

Muitas vezes escondemos isto atrás de “só estou a brincar” ou “precisava de desabafar”. O sarcasmo britânico só piora: aprendemos cedo a disfarçar crueldade com humor. O problema não é um comentário duro de vez em quando. É quando aquele tom se torna o normal. Quando a tal conversa de 15 minutos “Vamos resolver isto” vira um espetáculo ao vivo de porque um acredita em segredo que o outro está irremediavelmente estragado. É essa a conversa que a investigação assinalou, vezes sem conta.

Quatro sinais de alerta que se infiltram nessa conversa

1. Crítica: de “isto é um problema” a “tu é que és o problema”

A crítica costuma ser a primeira a entrar. Não é: “Fico triste quando te esqueces da noite de namoro,” é: “Nunca pensas em ninguém além de ti.” Uma está focada no comportamento; a outra na personalidade. Com o tempo, a crítica constante faz o parceiro sentir-se sob avaliação permanente. Não escuta, “Podes ajudar-me?” O que ouve é, “Tu não és suficientemente bom.”

É aí que se deixa de ouvir para começar a defender-se. Porque ninguém se envolve numa conversa em que sabe que vai ser o vilão. É um passo curto da crítica ao desprezo, sobretudo quando há ressentimento acumulado há meses ou anos. A previsão dos 93% não surge de uma má noite. Surge de uma repetição em que a crítica vai corroendo o respeito.

2. Defensividade: a arte de evitar responsabilidades

Assim que chega a crítica, a defensividade dispara para o palco. “Sim, mas tu também fazes.” “Isso não aconteceu assim.” “Bem, se não fosses tão dramático(a)…” Em vez de responder à queixa, contra-ataca-se ou faz-se de vítima. É humano; ninguém gosta de ser acusado. Mas cada defesa é um pequeno muro erguido entre si e a pessoa a quem se prometeu proximidade.

Na conversa que prevê o divórcio, ambos tornam-se peritos em advocacia, mostrando provas desde 2016. Ninguém ouve a dor que está por baixo. O problema deixa de ser, “Como resolvemos isto?” e passa a ser, “Quem ganha?” E nesse tribunal, mesmo o vencedor vai para casa sozinho.

3. Bloqueio emocional: o desligar silencioso

Há um momento que alguns conhecem demasiado bem: o coração acelera, os ouvidos zumbem, e tudo o que se quer é sair dali. Cruzam-se os braços, encara-se a mesa, o rosto fecha-se como se estivesse a fechar o estaminé. Por fora: calmo, talvez um pouco entediado. Por dentro: totalmente dominado. Isto é o bloqueio – não é apenas arrefecer, é sair emocionalmente do edifício enquanto o corpo fica sentado no sofá.

O bloqueio nem sempre é mau – muitas vezes é instinto de sobrevivência. Só que, visto do outro lado, pode ser brutal. Choras, imploras, tentas envolver a outra pessoa, e quem amas nem parece ali estar, preferindo ver as notícias. Com o passar do tempo esse silêncio é mais alto do que qualquer grito. A conversa que prevê o divórcio frequentemente termina não com fogos de artifício, mas com alguém a ficar calado e a dizer, “Faz como quiseres.” Isso não é uma tréguas, é uma desistência.

4. Desprezo: o corte final

Quando o desprezo se instala, a relação muda de forma. Já não são dois humanos falíveis a tentar desenrascar-se; são o “adulto” e o “idiota”, o “responsável” e a “criança”, o “sensato” e o “maluco”. Ao encaixar o parceiro nessa caixa, tudo o que faz serve de prova de que se tem razão. Chora? Exagerado/a. Fica calado? Manipulador/a. Tenta explicar-se? Desculpas. Já nem se consegue vê-lo claramente.

Os 93% não são adivinhação; são reconhecimento de padrões. Quando a discussão do casal está imersa em desprezo, com doses regulares de crítica, defensividade e bloqueio, as hipóteses de manterem um casamento feliz caem a pique. Não porque sejam más pessoas, mas porque deixaram de debater problemas e passaram a assassinar o carácter e a desenvolver planos de fuga. A partir daí, é um desenrolar lento e longo.

Os pequenos momentos antes da grande rutura

O divórcio raramente aparece como uma reviravolta dramática. Vai-se infiltrando em conversas insignificantes que deixam um sabor estranho. O almoço de domingo em que um faz uma piada à custa do outro e todos riem enquanto o visado olha para o prato. A discussão antes de dormir sobre quem faz mais, em que ninguém dorme em condições. A viagem de carro em silêncio, rádio a tocar baixinho, os dois a mexer no telemóvel no semáforo porque falar pesa mais do que estar calado.

*Não se diz, “Esta é a conversa que nos vai acabar.”* Diz-se, “Está a exagerar,” ou “Amanhã passa,” ou “Nem tenho paciência para voltar a discutir isto.” Entretanto, o corpo já sabe. Fica tenso quando a pessoa entra na sala. A voz muda na presença dela. Começa-se a autocensurar porque já se sabe qual é a versão que vai ser gozada, ignorada ou posta de parte.

Gostamos de imaginar que as relações acabam por uma grande traição. Às vezes é isso. Mas muitas vezes acabam porque as últimas cinco discussões “normais” tinham desprezo em cada frase e ninguém deu nome a isso. Quando chega a grande conversa – sobre advogados e partidas – a relação já se tinha evaporado há muito tempo nas pequenas discussões cruéis dos anos anteriores.

Pode parar-se esta conversa quando já começou?

O assustador da estatística dos 93% é como soa fatal, como se fosse uma praga. A verdade é mais caótica. Humanos não são ratinhos de laboratório. Alguns casais conseguem puxar-se de volta da beira do abismo. Reparam no desprezo, nos olhares, nos suspiros que dizem “és patético(a)” e decidem que não querem ser essas pessoas juntos. Não é fácil. Ao início parece falso, estranho, ou até forçado.

Os casais que recuperam fazem uma coisa radical: protegem o respeito básico como se fosse oxigénio. Aprendem a queixar-se sem rotular o outro de defeituoso. “Sinto-me sozinho(a) quando estás no telemóvel a noite toda,” em vez de “Não queres saber de mim.” Chamam o desprezo em si mesmos. Não com auto-ódio, mas com uma honestidade firme: “Isso foi feio. Vou tentar de novo.” Trocam o sorriso irónico por algo muito mais difícil para um adulto orgulhoso: verdadeira vulnerabilidade.

Virar-se para o outro em vez de se afastar

Os investigadores das relações falam de “virar-se para o outro” – os pequenos gestos de cuidado ou curiosidade em vez de rejeição. O parceiro suspira e diz, “Que dia.” Podemos resmungar, “Lá está ele(a),” ou perguntar, “O que aconteceu?” Parece pouco. Não é. Cada gesto é um voto, repetido vezes sem conta, pela ligação em vez do desprezo.

O contrário também é verdade: cada pequeno afastamento – olhar para o telemóvel, encolher os ombros com sarcasmo, dizer ao outro que “és demasiado sensível” – é um voto no sentido oposto. A conversa que prevê o divórcio é basicamente um longo virar de costas em tempo real. Duas pessoas a ver a dor do outro e a escolher, silenciosamente, não a acolher. A mudança começa quando um deles decide, apenas uma vez, aproximar-se.

A pergunta a fazer depois da próxima discussão

Da próxima vez que discutires – e vais discutir, porque és humano – a pergunta mais útil não é “Quem tinha razão?” É, “Fiz com que ele(a) se sentisse pequeno(a)?” Não “O argumento era válido?”, mas “Comporteime-me como se fosse superior?” Somos rápidos a analisar o que o outro faz e lentos a reparar no nosso tom. O amor não morre porque alguém esquece de comprar flores; morre porque se esquece de tratar o outro como igual.

Não podes voltar atrás e reescrever as conversas do passado que esvaziaram algo entre vocês. Podes reescrever a próxima. Talvez isso comece de uma forma pouco “cool”: com um pedido de desculpa nervoso numa cozinha desarrumada que ainda cheira a torrada queimada. Com um suave, “Não quero falar contigo assim,” mesmo que ainda doa por dentro. Com o risco de acreditar que a pessoa à tua frente não é tua inimiga, mesmo quando assim parece.

Os 93% soam a destino. Mas, sempre que sentas, respiras e escolhes respeito em vez de desprezo, aumentas silenciosamente as tuas probabilidades. A conversa que prevê o divórcio é dolorosa. As conversas que o previnem são mais baixas, menos dramáticas, e ninguém fará um filme sobre elas. Parecem apenas duas pessoas a escolher – vez após vez – não só ficar, mas ficar com bondade.

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