Os pontões brilham até tarde durante a noite, as arcadas piscam, o vento transporta coros de karaoke e foliões passam pelas fachadas vitorianas como colunas portáteis. Antigamente, os diretores de hotel vendiam “vista mar”; agora vendem silêncio. O envidraçamento das janelas tornou-se numa corrida silenciosa na costa, em luta contra gaivotas, diversões e graves que viajam através do vidro como um rumor. A pergunta que os hóspedes sussurram no check-in é nova e prática: quão silencioso é o quarto? E a resposta escondida mede-se em decibéis, não em estrelas.
Na noite em que percebi o quanto o litoral mudou, não estava na praia. Estava encostado a uma janela de guilhotina numa pensão em Broadstairs, com o ouvido atento ao zumbido lá em baixo. Um músico de rua repetia Ed Sheeran no pontão, a maré batia no paredão do porto e um camião de entregas resfolegava até parar às 5 da manhã. A recepcionista deslizou a chave com um leve pedido de desculpa: “Já instalámos o novo envidraçamento — vai notar a diferença.” Notei mesmo. E aprendi o número mágico mais tarde.
A nova banda sonora do litoral britânico
O pontão moderno não é um passeio eduardiano. É uma micro-cidade com colunas, compressores, exaustores e aquele tilintar irresistível das máquinas de jogos. Cada elemento acrescenta uma camada à paisagem sonora, e o conjunto chega aos quartos mais rápido do que se pensa. Os hoteleiros falam dos fins de semana de verão como maratonistas falam de hidratação: ritmo, resiliência e recuperação. O silêncio vende camas.
Em Brighton, uma praça de táxis está em funcionamento junto ao Palace Pier até tarde; em Blackpool, as rodas das montanhas-russas cantam de forma curiosamente náutica; em Southend, o vento transforma o pontão numa imensa palheta. Um gerente noturno contou-me de uma família que fez o check-in depois do pôr do sol, encantada pelas luzes de conto de fadas, mas que à meia-noite apareceu com as almofadas debaixo do braço. O hotel mudou-os para um quarto interior com vidros duplos. Os sorrisos ao pequeno-almoço voltaram. Não é científico, claro, mas é uma tendência.
Para os proprietários, o cálculo parece simples. Não se pode pedir à maré para calar ou ao bar ao lado para baixar o volume às dez. Pode-se tratar o edifício. O envidraçamento moderno oferece eficiência térmica e controlo acústico, por isso o investimento encaixa tanto no orçamento de energia como no conforto dos hóspedes. Triunfos duplos são raros na hotelaria; este parece estar lá perto. Os hoteleiros já falam em valores Rw, como entusiastas de carros falam de binário.
Então, que decibéis deve visar perto de um pontão?
Eis o essencial: vise cerca de 30 dB(A) dentro do quarto durante a noite, medidos como LAeq ao longo de oito horas, com picos — LAmax — abaixo dos 45 dB(A). Durante o dia, 35 dB(A) já soam calmos para ler ou trabalhar. Isto está de acordo com a norma BS 8233 para quartos repousantes, e é o que o nosso ouvido espera durante a madrugada. Se um hotel conseguir manter os 30 dB(A) dentro enquanto o pontão está em festa, vai dormir.
Os vidros duplos travam o calor, mas o som passa pelas caixilharias e frestas. O vidro laminado acústico e as vedações adequadas contam mais do que apenas colocar uma segunda folha. O vidro duplo secundário — uma janela interior discreta e independente com um espaçamento generoso de ar — é o herói na zona costeira, muitas vezes atingindo Rw de 40 dB ou mais. Pergunte o que está do lado da rua e o que está do lado do quarto. E faça uma medição com uma aplicação de telemóvel antes de apagar a luz; procure valores entre os altos 20 e os baixos 30 à 1 da manhã.
Todos nós já passámos pelo momento em que a música baixa, o quarto acalma, e um só riso na rua parece soar ao lado da cama. É esse pico que o cérebro guarda. Não aceite um quarto por cima do bar ou mesmo sobre a entrada, onde as vozes se acumulam. Peça andares superiores e quartos perpendiculares ao pontão. Se o hotel mencionar “vidro laminado acústico” ou “vidro duplo secundário com espaçamento de 100–150 mm”, está em boas mãos.
Pense simples e específico. Uma boa janela é um sistema: vidro, aro, vedações, grelhas, instalação. Um sistema mediano deixa escapar som pelas menores frestas. A mais pequena corrente de ar anula o vidro mais caro.
“Projetamos para 30 dB(A) na almofada”, diz Hannah Lewis, engenheira acústica que trabalhou em três hotéis da Costa Sul. “Os hóspedes não avaliam valores Rw — avaliam o sono.”
- Meta dentro do quarto de noite: 30 dB(A) LAeq, picos abaixo dos 45 dB(A).
- Peça vidro laminado acústico ou vidro duplo secundário com uma boa folga de ar.
- Prefira quartos que não estejam voltados diretamente para o pontão; cantos e traseiras são mais tranquilos.
- Confirme grelhas acústicas e vedação eficaz no perímetro.
- Use um medidor de telemóvel rapidamente; se mostrar 40 dB à 1 da manhã, peça para mudar de quarto.
O que os hotéis estão a instalar — e como pode surfar a onda
A onda da renovação parece simples vista da rua. Por dentro, mede-se em milímetros. Muitos hotéis optam por vidro laminado acústico de 10,8 mm na camada exterior e depois adicionam um vidro secundário fino com espaçamento de 100–150 mm. Essa folga é o segredo: o ar funciona como uma mola, desfazendo a energia do som. Quando bem feito, sente-se a porta fechar e o mundo abrandar, como entrar num estúdio de gravação para civis.
As caixilharias contam a sua história. Madeira pode ser ótima, mas precisa de vedações compressivas que realmente comprimam; PVC é bom se o instalador se preocupar com os últimos dois por cento. As grelhas podem ser vilãs ou heroínas — as acústicas abafam a estrada sem impedir o ar fresco no quarto. Sejamos honestos: ninguém faz mesmo isto todos os dias. Não vive num laboratório; dorme num quarto. O truque é fazer a ciência desaparecer.
Os hotéis falam, naturalmente, do custo. Um quarto típico junto ao mar pode precisar de 1.000 a 2.500 libras só em isolamento acústico, do vidro às grelhas e à aplicação. Os donos dizem que o retorno está nos reembolsos evitados, nas estadias prolongadas, e nas avaliações que realçam uma palavra pouco glamorosa: sossego. Os seus ouvidos decidem a sua estadia.
Há um número que está quieto por detrás de tudo isto. Cada queda de 10 dB é percebida, em média, como metade do volume anterior. Se a festa na rua está nos 60 dB à sua janela, um bom sistema de vidros que garanta 30 dB no interior não suaviza apenas o ruído — transforma a noite. Vai acordar a pensar no mar, não nas colunas de som.
Para além das janelas, os melhores hotéis tratam também o resto do edifício. Portas de corredor de fecho suave, guarnições acolchoadas, máquinas de gelo silenciosas, tapetes nas escadas de madeira. Não é luxo pelo luxo; é disciplina sonora. Alguns até adicionam opções de ruído branco nos quartos, um sussurro suave que esconde imprevistos — o grito solitário, o caixote das garrafas ao amanhecer, a gaivota opinativa.
Os hóspedes também têm papel a desempenhar. Se vai reservar junto a um pontão em época alta, faça duas perguntas por email: qual o tipo de vidro nos quartos virados ao mar, e qual o nível típico de dB junto à almofada durante a noite? Vai saber mais em duas respostas do que em vinte fotos ao pôr do sol. E se a resposta for cuidadosa e específica, provavelmente encontrou um bom hotel.
O litoral não vai ficar em silêncio. Está a ficar mais inteligente. Os hotéis não lutam contra a diversão; moldam-na. Uma boa janela deixa entrar o brilho e mantém de fora o barulho, como uma objetiva para o som. Vai continuar a ouvir o sussurro da maré quando quiser. Não vai ouvir o coro da 1 da manhã, a não ser que abra a janela e o convide a entrar.
Escolha os seus decibéis, e escolhe a sua noite. Esta é a nova realidade na costa britânica. Os pontões podem brilhar e cantar; o seu quarto pode ser um recanto de calma. Os melhores hotéis decidiram que ambos cabem nas mesmas férias. E já estão a pô-los no enquadramento certo.
| Ponto-chave | Detalhe | Interesse para o leitor |
| Meta de decibéis à noite | 30 dB(A) LAeq, picos abaixo dos 45 dB(A) | Referência clara para dormir junto ao pontão |
| Melhor escolha de vidro | Vidro laminado acústico + vidro secundário, grande folga de ar | Solução concreta que resulta contra ruídos do cais |
| Localização do quarto | Andar elevado, não de frente para o pontão, portas e vedações eficazes | Medida simples que reduz o ruído sem obras |
Perguntas Frequentes:
- Qual a diferença entre vidros duplos e vidro secundário? Vidros duplos são uma unidade de fábrica com duas lâminas de vidro. Vidro secundário acrescenta uma janela interior separada e uma folga de ar mais larga, que bloqueia melhor o som das arcadas e das conversas tardias.
- Como posso medir decibéis no meu quarto de hotel? Use uma aplicação de telemóvel que mostre LAeq e LAmax. Faça uma medição de 5–10 minutos por volta da 1h da manhã com a janela fechada; um quarto calmo estará perto dos 30–33 dB(A).
- Vale a pena investir em vidro “acústico” laminado? Sim, porque a camada plástica entre vidros amortece a vibração. Mas não resolve uma caixilharia mal isolada, por isso vedações e grelhas são essenciais no pacote.
- Um andar superior será sempre mais silencioso? Frequentemente, porque vozes e motores perdem força com a altura. Porém, atenção a extratores no telhado ou a gaivotas junto a parapeitos, que podem trocar um ruído por outro.
- Devo levar tampões para os ouvidos ou uma app de ruído branco — só por precaução? É uma solução prática, especialmente na época alta ou durante eventos. Ainda assim, um quarto bem envidraçado perto de um pontão deve manter-se perto dos 30 dB(A). Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias.
Comentários (0)
Ainda não há comentários. Seja o primeiro!
Deixar um comentário